Achava que tinha nascido sem querer (porque não plantei - de propósito) Uma árvore
Tirando-a do vasinho plástico (preto, petróleo puro) Jogava-na no canteiro da Praça da + Vermelha (De vermelha não tem nada De Cruz, alguma coisa) Nascia uma árvore
Cumpria eu uma missão singela e solene (Ia ao livro? Ao filho?)
A um palmo de altura Ela floresceu Veio sozinha, no cantinho do vasinho plástico preto de petróleo puro
Parece que não vai mais De planta, só tem que é verdinha Dá vontade de comer as folhas Mas não vai mais...
Ficou ali, florida Um raminho lindo, florzinha verde Coisinha vegetalmente insignificante Balançando à brisa, vento fresco à beira-mar
(O mar está a 2km daqui. Não achei a palavra que o Machado usou Mais caprichada do que brisa! Creia… vá ler o Machado)
Ficou ali Com outras pequeníssimas florezinhas nos raminhos pequeninos Mais baixos do que um palmo (descontada a altura do vasinho e do nono andar)
E minha árvore? Minha Árvore da Vida De outubro de 2011 Nada
Semeio o quê? Semeio como?
Ali Só uma plantinha linda E medíocre - e menor Só verde - há o vermelho, o roxo, o lilás O Amarelo, o azulzinho, as espadódicas (Não vou nem mencionar os girassóis) Mas ela É só verde até agora
Muito menor de que uma Árvore
Distraiu-se com o bandoneón? Um tango meio comovente Te comoveu, putinha natural? Preguiçaste?
A um palmo mais alta do que a terra de um vasinho No parapeito da janela Por onde passa uma brisinha (cadê a palavra mais bela ainda do que brisa?) Do nono andar A 2 km do mar em Guanabara
Novo andar Verás, árvore? Putinha vegetalmente árvore, risonha Meu novo andar
Ficamos - tu e eu Numa onda marinha respeitosa Pois tu és verde, saborosa, florida, seivosa Florfolhuda E eu, caminhante Podendo dizer-te isto - isto, tudo
Balançando...
Tu: a brisa e a terra (osmoses, fotossínteses et cetera) Eu: a voz e a ode (alfabetos, cartas, ciências et cetera)