sábado, 29 de agosto de 2009

Cartola, de fato



Cartola existiu?

Esta é pergunta me ocorreu há alguns dias quando pus o primeiro disco desse músico para tocar. Era alta madrugada, o nível de abstração ia elevado, fazia tempo que não escutava aquelas músicas, me vi consternado.

Veio um palpite de que ele talvez não tenha existido, talvez não tenha nascido, nem morrido. Talvez não haja data de nascimento ou de óbito, porque Cartola não existiu. Não de alguma maneira convencional, pelo menos.

A sua música carrega tamanhas doses de lirismo, candura e intensidade, que prefiro imaginar que possa ter sido feita por um anjo, tão arraigado quanto alheio às coisas miúdas do nosso jardim de dias.

Os fatos curiosos de sua trajetória de vida só aumentam o mistério sobre a possibilidade sociológica, antropológica, estética, política ou mística do acontecimento deste artista. Cartola, músico, compositor, sambista, poeta, negro, pobre, favelado, anjo – defini-lo é problema das ciências.

Cartola é música. Beleza em dolorosa harmonia.