quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sacolas de compras

Atravessou a Avenida apressado, feito trote. O sinal fechou na hora exata; ele correu para aproveitar a grande oportunidade de se atrasar menos. Era também que as sacolas pesavam muito, por causa das latas de cerveja, da garrafa de vinho, do pote de palmito e da água sanitária: os braços doíam. Chegou à calçada do outro lado, passou pela velha que dorme sob a marquise e parou alguns metros adiante. Pousou as sacolas todas no chão para descansar. Pensou que iam ficar sujas da rua. Pensou que iam sujar o mundo todo. Eram muitas sacolas, assim aos pares, uma dentro da outra. Qual seria o jeito de que as sacolas sujas não sujassem o mundo, se eram tantas e no supermercado havia tantas mais? Numa delas, havia alguns pacotes de pão. Tirou o de pão-de-forma, fatias insossas, entregou-o à velha e seguiu com seu trote ridículo.






Rio de Janeiro, dezembro de 2006




Preparando...



Outros Carnavais: INFANTES DA PIEDADE vem aí!

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Trancrições noturnas #01


"Era todavía demasiado joven para saber que la memoria del corazón elimina los malos recuerdos y magnifica los buenos, y que gracias a ese artificio logramos sobrellevar el pasado. Pero cuando volvió a ver desde la baranda del barco el promontorio blanco del barrio colonial, los gallinazos inmóviles sobre los tejados, las ropas de pobres tendidas a secar en los balcones, sólo entonces comprendió hasta qué punto había sido una víctima fácil de las trampas caritativas de la nostalgia".

El Amor en Los Tiempos del Cólera. Gabriel García Marquez