sábado, 26 de novembro de 2011

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Árvore da Vida

Achava que tinha nascido sem querer
(porque não plantei - de propósito)
Uma árvore

Tirando-a do vasinho plástico (preto, petróleo puro)
Jogava-na no canteiro da Praça da + Vermelha
(De vermelha não tem nada
De Cruz, alguma coisa)
Nascia uma árvore

Cumpria eu uma missão singela e solene
(Ia ao livro? Ao filho?)

A um palmo de altura
Ela floresceu
Veio sozinha, no cantinho do vasinho
plástico preto de petróleo puro

Parece que não vai mais
De planta, só tem que é verdinha
Dá vontade de comer as folhas
Mas não vai mais...

Ficou ali, florida
Um raminho lindo, florzinha verde
Coisinha vegetalmente insignificante
Balançando à brisa, vento fresco à beira-mar

(O mar está a 2km daqui.
Não achei a palavra que o Machado usou
Mais caprichada do que brisa!
Creia… vá ler o Machado)

Ficou ali
Com outras pequeníssimas florezinhas
nos raminhos pequeninos
Mais baixos do que um palmo
(descontada a altura do vasinho e do nono andar)

E minha árvore?
Minha Árvore da Vida
De outubro de 2011
Nada

Semeio o quê?
Semeio como?

Ali
Só uma plantinha linda
E medíocre - e menor
Só verde - há o vermelho, o roxo, o lilás
O Amarelo, o azulzinho, as espadódicas
(Não vou nem mencionar os girassóis)
Mas ela
É só verde até agora

Muito menor de que uma Árvore

Distraiu-se com o bandoneón?
Um tango meio comovente
Te comoveu, putinha natural?
Preguiçaste?

Olho para ti

Ficas aí
Viras Árvore?
Tranformo-te Árvore?
Verás árvores?

A um palmo mais alta
do que a terra de um vasinho
No parapeito da janela
Por onde passa uma brisinha (cadê a palavra mais bela ainda do que brisa?)
Do nono andar
A 2 km do mar em Guanabara

Novo andar
Verás, árvore?
Putinha vegetalmente árvore, risonha
Meu novo andar

Ficamos - tu e eu
Numa onda marinha respeitosa
Pois tu és verde, saborosa, florida, seivosa
Florfolhuda
E eu, caminhante
Podendo dizer-te isto - isto, tudo

Balançando...

Tu: a brisa e a terra (osmoses, fotossínteses et cetera)
Eu: a voz e a ode (alfabetos, cartas, ciências et cetera)

Nós: balançando…
Balançando…

sábado, 29 de outubro de 2011

Intimidades (re)missivas


(Sem crédito. Autor desconhecido - deste autor).

Rio de Janeiro, 12 de outubro de 2010

...,

Estou há 10 meses para te escrever uma cartinhas destas aqui, sem papel. Algo assim não tem sentido nem desculpa e, digo também, não tem razão. Não alguma que eu possa dizer. Ela, a carta, é redigida, afinal.
Ontem eu fiz 26 anos. Hoje, no dia seguinte, estava à volta de um grupo de colegas de trabalho num bolo de parabéns e, como não me fixasse nos olhos de ninguém, de todos que me olhavam, vi-me de uma perspectiva diferente. Naquele instante eu estava alheio como se estivesse sozinho, mas lembrei que já tinha sentido coisa parecida. Foi mesmo no dia anterior ao aniversário, às voltas de uma mesa também com um bolo, pessoas cantando os "vivas", enxerguei a mim mesmo por detrás da minha janela, embora não estivesse alheio. (Uma digressão: me refiro a sentir e passar a ter os olhos como uma complexa lente, que o médico abriu, poliu e corrigiu a distorção. Jamais esqueço da tua descrição sobre a visão de depois da cirurgia. Eu passei também por este fantástico dia.) Isso já deve ter acontecido outras vezes, em situações como esta.
Agora imaginei um quadro. Uma pintura. Nós estamos dentro do quadro. Não estamos desenhados nem estamos representados no quadro. Não é uma figura de "nós", como tampouco não o é uma figura "nossa", porque não a pintamos. Não é de nossa autoria. Nós somos o próprio quadro. E as pessoas podem nos ver. Vemos que elas enxergam uma imagem, que geralmente provoca algum tipo de reação. Umas olham de perto, outras de longe. Algumas veem lilases, outros desejam seu amarelo solar. E vamos móveis por aí, itinerando pelas salas de exposição do museu do mundo.
A sensação que tive, como sensação antiga, familiar, era a de me dar conta de que as linhas do desenho que eu formo estão mudando, passamos a ganhar outros tons. Mas sem nunca ser capaz de dizer exatamente o que está gravado, impresso, pintado ou escrito.
E a Sofia, como vai?!
E tu, como anda?
Mando fotos (isso é mais fácil que fazer uma tatuagem).

Beijo,

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Coisas estranhas #03



Princesas

EMPURRE ->

MULHERES ESTE BANHEIRO É SÓ PARA FASER XIXI NÃO DEFECAR

Gentilíssimo aviso às frequentadoras do Depósito da Bebidas dos Pigmeus Maranhenses (ou Maranhenses Pigmeus).

sábado, 1 de outubro de 2011

Rascunhos de um casamento sob as leis da gravidade


Isso de ter em mim todos os sonhos do mundo
Diz respeito também a ti

Quando o tomo em respeito a mim


Achar em modo de certeza - crer

Que não haveria melhor lugar

Se não ali
À beira de um rio Paraná
qualquer


Imaginar
Se aquela sorte de efeito

De uma lua crescente nas águas do rio

Devires aquáticos, lunáticos
Teria poder também sobre nossas águas
Internas correntes

(Ah!, os astros que se pode enxergar
Quando os planetários estão fechados…)


Errar…


Comer quatro refeições ao dia

Por distração
Não comer nenhuma
E estar só à base de chá
Não sós à base de chá

(Lavei a mesma peça de roupa duas vezes
Falava contigo e me distraí…)

Estamos a salvo
De não encontrar a maçaneta
Desprecisa distinção quando não serve a divertir

(Ah!, as maçanetas
Nossas maçanetas surdas, sinistras, canhotescas…)

Teus liceus, tuas calçadas,
Teus canteiros em órbitas tão discrepantes
Acaso terrível
Mas nossas plantas olham (e sorriem) para o mesmo Sol
Cuida de pô-las água
Desafoga
E isto pode deixar menor as gravidades
Nossas gravidades astrais

(O amor, este grande preconceito
Amar é desistir, duvidar e crer…)



Homenagem a Nicolau Copérnico,
"o homem que deteve o Sol e moveu a Terra".

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Estamira



+ 29.07.2011
Estamira (Documentário, Brasil, Séc. XXI. Direção: Marcos Prado)

A sua Estupidez não lhe deixa ver...

terça-feira, 26 de julho de 2011

Timing

Quém já viu o entardecer? De um dia de inverno? Cerros parados, bem lá no céu, mudando de cor. Amarelo, laranja, vermelho, lilás. É quando o céu deixa seus matizes prediletos e suspira em verde. Ou prende a respiração, de fato. A hora suspensa. Brecha no espaço-tempo. Pode-se ouvir até o rumor surdo da existência no silêncio, na luz que se esmaece.
Há muita natureza aí, é claro. Apenas evolução. O homem sobre a face da Terra, temendo a noite. Últimos instantes para uma mudança de estado.
Lá em cima, mais baixo que os cerros, mas ainda bem alto, um avião branco avança lentamente (a mais de 500 quilômetros por hora). Placidamente. É uma paisagem. Poderia ser natureza-morta. Não a rigor, mas em relação ao movimento que se desenha. Do alto dos edifícios, parece mesmo paisagem. O avião não chega a perturbar o silêncio estático da tela. Tudo está tão longe...
Filho da pressa. Láurea conseqüência da luta do homem com a noite, com a distância, com a sua finalidade. Aqui no Rio, dá para ver os aviões que sobrevoam a cidade a todo instante (em intervalos regulares de 10 minutos? Somente Cindacta saberá…) aterrizando e decolando da cabeceira da pista, no caminho da Escola Naval. São manobras fenomenais. Uma maravilha técnica. Tudo é tão veloz…
Havia cachoeiras. Muitas delas, numa serra que foi virada e revirada no caminho do garimpo de diamantes. Havia muitos diamantes ao sul, em Minas Gerais, a serra é a mesma; era natural que houvesse diamantes na Bahia também. A água escavou vales impressionantes nas camadas rochosas vulcânicas. Como fatias de mortadela empilhadas durante milhares de séculos. A água escavou. Fez surgir cascatas. Há tempo para lá se estar e então há tempo para pensar que não houve pressa. Deusa da paciência. Senhora dos ciclos. Tudo é tão orgânico…
Água para enxaguar as idéias.
Muitos impulsos eletrônicos depois, o que veremos?
Tudo é mero descompasso?...


sábado, 4 de junho de 2011

gar.ro.te

1. sm (fr garrot) 1 Método de execução espanhol por meio de uma golinha de ferro afixada a um poste e apertada por um parafuso até estrangular a vítima. 2 Instrumento com o qual é efetuada tal execução. 3 Estrangulação por qualquer meio, de modo semelhante ao do garrote. 4 Med Elástico com que se comprime a veia na aplicação de injeção endovenosa. 5 Med Qualquer faixa ou tira com que se impede a passagem do sangue por um ponto, em qualquer membro, por exemplo, em acidentes ofídicos. 6 fig Angústia. 7 Parte compreendida entre o dorso e o pescoço do cavalo e de alguns outros grandes quadrúpedes; cernelha. Mal do garrote, Vet: higroma devido ao atrito, intenso e repetido, da sela ou da cangalha, na cernelha da cavalgadura.
2. sm (de garrão) Bezerro de dois a quatro anos de idade. Fem: garrota.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Como dizer...



Ser é estar. Um girassol da cor dos seus cabelos. Flor. Laço. Junto as imagens que me acercam e vou para o meu quintal dos fundos. O meu jardim. Tecido mais fino e bonito e íntimo. Mais sólido e puro e firme e jovem e vivo e mais sutil e frágil e doce e gentil e honesto. É feito uma verdade. Mais intenso que uma especulação filosófica, que uma investigação científica, que uma timidez de fazer número dois no banheiro quando ela está em casa, que a vibração de completar o drible e, em seguida, acertar o chute, que o abatimento face à enfermidade. Mais lindo que estar num mirante, mirando. Não mais intenso que uma dor. É como uma dor. E raro, como um rubi, que dizem ser preciosa pedra - rara porque nunca vi. O silêncio na sua impossibilidade. É como um amor. Amor em forma de saudade. Flor do encontro. Janela do céu.

sábado, 7 de maio de 2011

É só um elogio à música, com um pouco de auto-análise



Se o cara escolher uma data para morrer, ele morre. É verdade: tenho andado com algum medo da morte e sido um pouco religioso. O cara pode morrer de muitas formas. Mas tem uns caras que andaram escolhendo morrer. Anunciando seu fim. Esta se torna a questão central da existência do sujeito. A maioria escolhia a data, mas uns escolhiam o lugar e alguns menos escolhiam um modo.
Os que marcam a data transformam em bandeira a certeza do fim. Gláuber Rocha prometeu morrer com 42 anos. A esta idade, já tinha feito bastante pelo cinema brasileiro. (Se eu ainda quiser correr atrás, digo que vou morrer aos 78 de idade e tenho a vida do Gláuber pela frente, com mais 10 anos de bônus!...) Fala-se numa maldição dos 27 - os 3 J - Jimi (Hendrix), Janis (Joplin), Jim (Morrison). Os três, aos 27 anos, já tinham feito bastante pela música. Escolheram morrer? Morreram?
Alguns escolheram um lugar para morrer. Não é difícil tentar rememorar pessoas deste tipo. Radicais: que fincam raízes. Não abandonam a terra. Existem tantas terras. Tantos lugares onde se viver e defender. Geograficamente definíveis ou não. Republicanos, conjurados, insurreitos, comunnards.
Os que escolhiam o modo são os mais difíceis de encarar, mas se estiver diante do túmulo deles, você chora. Chora sem saber porquê. Estes só tocam no seu tecido mais fino e bonito e íntimo. Estive na frente do túmulo de Jean-Paul Sartre e chorei. Chorei sem saber porquê. Não o conhecia. Havia uma mulher - a Simone, enterrada junto com ele. Senti que chorava por ela também. Como não podia chorar por eles (isso quem não sabia?), chorei pelo meu tio. Mas não estou seguro se nenhum dos dois - Sartre e meu tio - escolheu um modo de morrer.
Che escolheu um modo? Ou uma terra? Há um lindo poema atribuído a ele (com controvérsias), nos últimos dias na selva boliviana:

Cristo, te amo

No porque bajaste de una estrella
Sino porque me revelaste
Que el hombre tiene lágrimas
Congojas
Llaves para abrir las puertas cargadas de luz
Sí... tú me enseñaste que el hombre es Dios
Un pobre Dios crucificado como tú
Y aquel que está a tu izquierda en el
Gólgota El Mal Ladrón
También es un Dios!"


Digo coisas que me assustam. Não é fácil andar por estes caminhos escuros. A aventura do futuro. O resto de uma vida. Não. Não se trata disso. Isso é chegar na capoeira da história pelos fundos. Saber seu fim é saber que você está vivo. Com que idade gostaria de morrer Mahatma Gandhi? Onde? Isso quem sabia? Ele falava disso?
Como para os místicos tudo pode ser lido como um sinal, tentemos deixar a religião de lado: pense numa banda. Quanto tempo uma banda precisa durar? Quantos discos precisa gravar? Quantos discos você precisaria ouvir dos Secos e Molhados? Quantos dos Novos Baianos? Quantos do Clube da Esquina? Quantas vezes, quantos fonogramas, para saber que houve um milagre?
Fique calmo, rapaz.




quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011