quinta-feira, 17 de maio de 2012

Suicídio de Quinta-feira

Despeço-me

Ando nas ruas e já na próxima esquina
Não sou mais

Fatigado de tanto meter ao peito tantas vidas,
Procuro sobriamente deitá-las fora,
Mas me vêm em forma de desatinada dor.

Um passo e deixo na rua um pouco de mim
Mas à frente o mundo me antecipa e me refaz
E caminho perpassado pelos modos, de outros, incômodos

Exausto de mal-moldurados quadros,
favelas, gravuras, vitrines, caixotes-edifício
Integrantes-fato que participam à orquestra do caos
Que me constrói

Cometo hoje o mesmo gesto
Da outra quinta-feira, última quinta-feira
Quando me suicidei

Mas só mesmo o gesto se repete
Refeito de outro modo
Pois é outra a mão
A executar e não é o mesmo
Quem o leva a termo

Diante do caixote-edifício em que habito,
Esqueço-me dos demais caixotes-edifício que
A cidade afirma, das mal-molduradas vidas
Incomodamente metidas ao peito e deitadas fora
Sobriamente.

Despeço-me
Não sou mais

Me demito: bom dia!

17/07/2007

Cuíca não morre, canta.



sábado, 12 de maio de 2012