quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

De Regresso ao Exílio


À beira do Tejo, sento-me. À espera de que este novembro se faça janeiro, quando posso regressar à casa. Tampouco é isso que importa, todavia. Desatei o nó. Vivo pronto para viver, embora sinta ainda o peso da cruz. Bebi vinho (estou bebendo!). Dos mais caros, em copos baratos. Dos mais caros, em copos caros. Dos mais caros, em copos comuns. Bebi vinho, dos mais baratos (estou bebendo, o mais barato), em copo barato, em caneca, em copo de plástico. Fui barato. Muito barato, amoral. Fui ao máximo, traguei vida, estourando o peito, o estômago, o fígado, a pele, os olhos, a mente. Experimentei o cansaço. Caminhei, cansei. Sentei-me, segui caminhando, mais algumas horas. Experimentei os pés clamarem por piedade. Piedade. Faria mais, outra vez. Faria pior.
Embriaguei-me, incontáveis vezes. Rezei, incontáveis vezes, por acordar dali a dois dias. Entoxiquei-me. Matei-me, um pouco mais. Vivi, muito mais.
Amei. A todas elas. Descobri, fingi e aprendi beleza. Compreendi beleza. Respeitei. Odiei, repugnei um gesto. Amei, tanto o ódio quanto o repúdio. Lutaria por isto, realmente lutaria. Há outras coisas por que sofro e que acredito que deveria tentar lutar, mas não luto. Lutaria pelos meus pequeninos amores, covardemente. Uma grande covardia lutar pelo que está aí de melhor, defender o clímax da vida. Egoísmo. Sou um grande egoísta. Um enorme egoísta. Só penso em mim. Acontece que já é o bastante. Não tenho filhos ainda.
Vejo agora o que se passou: uma troca. Perderia estes anos, mais tarde, engolido inteiramente por este modelo que quando não os arranca por inteiro, levam, dos cabelos, ao menos a cor. Ganharia, em meu rosto, as marcas que agora serão deixadas pela fumaça, por noites mal-dormidas. Acabaria surdo, possivelmente em uma reação inconsciente, no intuito desesperado de não ouvir tanta besteira. Acabarei surdo, por ter escutado demasiadamente uma canção que me hipnotiza, me arrasa, me encanta, me humilha. Ouvi canções, guitarras, percussões, flautas. Deliciei-me.
Comi bem, muito, exageradamente. Comi pouco, emagreci. Voltei a comer bem, e então comi. Estive a mastigar um bom pedaço de carne com a devoção de um beato. Deleitei-me. Admirei(-me). Contemplei. Espreguicei-me. Redimi-me. Encantei-me. Encantado estou.
Disto tudo, não tente entender palavra. Não intento dizer-te algo. Escreva teu próprio texto. Estou vivo.

Lisboa, 24 de novembro de 2005.





sábado, 5 de dezembro de 2009

lâmpada do bem tropicale


Quando sinto alguma coisa
Que nem bem sei dizer o quê
Tudo se reveste de um incômodo grosso

E os planos métodos típicos
Parecem bem mais intangíveis
E tolos.

Agitado, inquieto, apressado
Resolvo tudo guiado por nada
E a corrente dos cotidianos objetos gestos oculta
a razão de tamanha desordem

Até que um olhar ao céu opaco
Da cidade explica tudo, amarelamente:

Lua cheia, que fica branca
No alto do céu, feito lâmpada
Do bem tropical

Feira moderna





"Bangla". Central Park, Nova Iorque - Agosto de 2009

Armazéns, vendinhas, feiras livres, mercados.
Comerciantes, mercadores, vendedores, feirantes, negociantes, traficantes.
Cada lugar tem a sua Lapa.