quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sacolas de compras

Atravessou a Avenida apressado, feito trote. O sinal fechou na hora exata; ele correu para aproveitar a grande oportunidade de se atrasar menos. Era também que as sacolas pesavam muito, por causa das latas de cerveja, da garrafa de vinho, do pote de palmito e da água sanitária: os braços doíam. Chegou à calçada do outro lado, passou pela velha que dorme sob a marquise e parou alguns metros adiante. Pousou as sacolas todas no chão para descansar. Pensou que iam ficar sujas da rua. Pensou que iam sujar o mundo todo. Eram muitas sacolas, assim aos pares, uma dentro da outra. Qual seria o jeito de que as sacolas sujas não sujassem o mundo, se eram tantas e no supermercado havia tantas mais? Numa delas, havia alguns pacotes de pão. Tirou o de pão-de-forma, fatias insossas, entregou-o à velha e seguiu com seu trote ridículo.






Rio de Janeiro, dezembro de 2006




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