(Sem crédito. Autor desconhecido - deste autor).
Rio de Janeiro, 12 de outubro de 2010
...,
Estou há 10 meses para te escrever uma cartinhas destas aqui, sem papel. Algo assim não tem sentido nem desculpa e, digo também, não tem razão. Não alguma que eu possa dizer. Ela, a carta, é redigida, afinal.
Ontem eu fiz 26 anos. Hoje, no dia seguinte, estava à volta de um grupo de colegas de trabalho num bolo de parabéns e, como não me fixasse nos olhos de ninguém, de todos que me olhavam, vi-me de uma perspectiva diferente. Naquele instante eu estava alheio como se estivesse sozinho, mas lembrei que já tinha sentido coisa parecida. Foi mesmo no dia anterior ao aniversário, às voltas de uma mesa também com um bolo, pessoas cantando os "vivas", enxerguei a mim mesmo por detrás da minha janela, embora não estivesse alheio. (Uma digressão: me refiro a sentir e passar a ter os olhos como uma complexa lente, que o médico abriu, poliu e corrigiu a distorção. Jamais esqueço da tua descrição sobre a visão de depois da cirurgia. Eu passei também por este fantástico dia.) Isso já deve ter acontecido outras vezes, em situações como esta.
Agora imaginei um quadro. Uma pintura. Nós estamos dentro do quadro. Não estamos desenhados nem estamos representados no quadro. Não é uma figura de "nós", como tampouco não o é uma figura "nossa", porque não a pintamos. Não é de nossa autoria. Nós somos o próprio quadro. E as pessoas podem nos ver. Vemos que elas enxergam uma imagem, que geralmente provoca algum tipo de reação. Umas olham de perto, outras de longe. Algumas veem lilases, outros desejam seu amarelo solar. E vamos móveis por aí, itinerando pelas salas de exposição do museu do mundo.
A sensação que tive, como sensação antiga, familiar, era a de me dar conta de que as linhas do desenho que eu formo estão mudando, passamos a ganhar outros tons. Mas sem nunca ser capaz de dizer exatamente o que está gravado, impresso, pintado ou escrito.
E a Sofia, como vai?!
E tu, como anda?
Mando fotos (isso é mais fácil que fazer uma tatuagem).
Ontem eu fiz 26 anos. Hoje, no dia seguinte, estava à volta de um grupo de colegas de trabalho num bolo de parabéns e, como não me fixasse nos olhos de ninguém, de todos que me olhavam, vi-me de uma perspectiva diferente. Naquele instante eu estava alheio como se estivesse sozinho, mas lembrei que já tinha sentido coisa parecida. Foi mesmo no dia anterior ao aniversário, às voltas de uma mesa também com um bolo, pessoas cantando os "vivas", enxerguei a mim mesmo por detrás da minha janela, embora não estivesse alheio. (Uma digressão: me refiro a sentir e passar a ter os olhos como uma complexa lente, que o médico abriu, poliu e corrigiu a distorção. Jamais esqueço da tua descrição sobre a visão de depois da cirurgia. Eu passei também por este fantástico dia.) Isso já deve ter acontecido outras vezes, em situações como esta.
Agora imaginei um quadro. Uma pintura. Nós estamos dentro do quadro. Não estamos desenhados nem estamos representados no quadro. Não é uma figura de "nós", como tampouco não o é uma figura "nossa", porque não a pintamos. Não é de nossa autoria. Nós somos o próprio quadro. E as pessoas podem nos ver. Vemos que elas enxergam uma imagem, que geralmente provoca algum tipo de reação. Umas olham de perto, outras de longe. Algumas veem lilases, outros desejam seu amarelo solar. E vamos móveis por aí, itinerando pelas salas de exposição do museu do mundo.
A sensação que tive, como sensação antiga, familiar, era a de me dar conta de que as linhas do desenho que eu formo estão mudando, passamos a ganhar outros tons. Mas sem nunca ser capaz de dizer exatamente o que está gravado, impresso, pintado ou escrito.
E a Sofia, como vai?!
E tu, como anda?
Mando fotos (isso é mais fácil que fazer uma tatuagem).
Beijo,