A crise econômica houve uma hora em que para mim foi isso: pessoas nos umbrais, conversando. Desperdiçando tempo. Haveria bancarrota geral, a economia definhando, lojas às moscas, escritórios ociosos, maré seca: pessoas conversando nos umbrais. Olhando gente passar, do jeito que os porteiros ficam. Olhando gente passar sob pilotis. Seria a hora de olhar os outros, convivendo, por falta de pressa, por falta do que fazer. Era como via quando era criança.
Morava num lugar úmido. Quando não fazia sol, ficava muito frio, os pés ficavam gelados. A luz vinha, detrás do morro, e entrava pela janela do quarto da minha irmã, de manhã. À tarde, a luz do sol batia no meu quarto, batia no quarto dos meus pais, batia na parede do banheiro azul. E esquentava o sabonete. Esquentava a água do cano, que demorava muito a sair fria da ducha.
Passava muito tempo sem fazer nada. Mas não é bom ficar sem fazer nada num lugar úmido, que gela os pés. Eu era mandado descer, tomar sol, que aparecia atrás do morro, filtrada entre os galhos das árvores lá no alto, e batia nas minhas canelas. Como gostava de tomar sol, gostava também de ser mandado descer. Os raios de sol esquentavam os meus pés, que ficavam sempre muito frios dentro de casa.
Ficava na rua sem fazer nada. Começava a olhar meus pés, calçados em chinelos, e olhava bem para o chão, iluminado pelos raios de sol, para depois olhar para frente, para a garagem de três portões, para a portaria social revestida de mármore branco. Passei muito tempo lá, sem fazer nada.
Hoje não fico mais sem fazer nada. Mas passo todo o tempo querendo não fazer nada. Pior é que gostaria que as pessoas também ficassem sem fazer nada (como acho que ficam às vezes no domingo de manhã, sob o pilotis). Sem pressa, talvez com um pouco de sono, deixando o tempo passar. Pessoas conversando nos umbrais.
Morava num lugar úmido. Quando não fazia sol, ficava muito frio, os pés ficavam gelados. A luz vinha, detrás do morro, e entrava pela janela do quarto da minha irmã, de manhã. À tarde, a luz do sol batia no meu quarto, batia no quarto dos meus pais, batia na parede do banheiro azul. E esquentava o sabonete. Esquentava a água do cano, que demorava muito a sair fria da ducha.
Passava muito tempo sem fazer nada. Mas não é bom ficar sem fazer nada num lugar úmido, que gela os pés. Eu era mandado descer, tomar sol, que aparecia atrás do morro, filtrada entre os galhos das árvores lá no alto, e batia nas minhas canelas. Como gostava de tomar sol, gostava também de ser mandado descer. Os raios de sol esquentavam os meus pés, que ficavam sempre muito frios dentro de casa.
Ficava na rua sem fazer nada. Começava a olhar meus pés, calçados em chinelos, e olhava bem para o chão, iluminado pelos raios de sol, para depois olhar para frente, para a garagem de três portões, para a portaria social revestida de mármore branco. Passei muito tempo lá, sem fazer nada.
Hoje não fico mais sem fazer nada. Mas passo todo o tempo querendo não fazer nada. Pior é que gostaria que as pessoas também ficassem sem fazer nada (como acho que ficam às vezes no domingo de manhã, sob o pilotis). Sem pressa, talvez com um pouco de sono, deixando o tempo passar. Pessoas conversando nos umbrais.
Um comentário:
bacana!
sabe, por esses dias fiquei doente um fds inteiro. acabou q fiz quase nada - e sem culpa - o fds inteiro e ainda mais um dia de folga: só sai de casa para ir a feira no domingo de manhã. me fez bem. e pensei.
e ainda pensei q pode ser bom ficar doente.
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