quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Minha Lua


Há um ano, perto do mesmo horário em que me despertei hoje - algum infame minuto da sétima hora do dia, recebia a notícia da boca árida do homem que me gerou: "- Não teve jeito". 
Há um ano, perdi em definitivo a possibilidade de encostar em sua pele quente; quente de um calor que vinha de dentro de seu corpo, perpassado daquilo que perpassa a todos nós (por ora), mas é tão inefável; em mais um punhado de horas não haveria nenhum toque de pele, nem mesmo na pele fria de antes do adeus. 
A sua vida se tinha lhe escapado, ou a morte dela tinha se apossado - o que deseja ver na luz a falta de escuro, assim vê -, de qualquer modo, tanto faz. Febris foram seus últimos dias, enquanto a medicina profanava a decência a combater infecções. Débeis e desalmados esforços... Febril foi seu amor à vida. Mãe, irmã, irmã da minha mãe, mãe da minha irmã, mãe da minha mãe, minha mãe.
Há um ano, ela passou a morar dentro de nós e na sua casa não mora mais ninguém. A pessoa só morre definitivamente quando ninguém mais se lembrar dela, diz um caro irmão. Quando morrer o último que dela se lembrava, aí terminou. Um consolo. Menos reconfortante do que as narrativas religiosas, mas o que mais poderia esperar um agnóstico?
Um ano depois, estou refeito. Refeito de lembranças que agora me compõem, esmoreço. Esmoreço e deixo a saudade entrar: refaço-me.



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