terça-feira, 9 de junho de 2009

Synthesis

Não sabia, mas era aquela a centésima quadragésima mulher com quem estava saindo, e a quadragésima terceira com quem estava prestes a dormir. Vivia uma noite em que seu espírito discutira com sua consciência – tudo parecia impossível e aquela mulher era parte disso. Tinha os traços da moça que fora seu primeiro amor, aos dezessete anos. Mas mostrava também os traços de todas as outras que ele desejou – das que pôde ter ou não – e daquelas com as quais viveu instantes e construiu lembranças. Tinha a risada longínqua de uma loira suave com quem compartilhou solidão febril; as mãos pequenas de uma outra, de tal maneira que as mãos das moças de mãos grandes também podiam estar ali, naquelas pequenas.
Sorriu, sorriu muito, falando àquela mulher como se se dirigisse a todas as outras de suas memórias. Sentiu vontade e amarrotou as roupas dela contra as suas, terminando por também amarrotar os papéis onde se achavam escritas aquelas memórias. Contou de seus projetos pouco íntimos e incitava a si mesmo a se despojar da vaidade, embora estivesse atravessado pela impressão de não servir de nada falar dos planos – nem dos íntimos nem dos alheios, nem de suas suspeitas e tampouco de suas convicções.
20/10/2007
(Levemente inspirado no Amor nos Tempos do Cólera - linhas colombianas.)

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