domingo, 14 de junho de 2009

Verões



Sentada, calou-se.

Buscou primeiro a imagem
De um tempo que lhe faltava
A imagem, para ela, bela,
De tudo que considerava pronto,
Construído, realizado.
Vasculhou sem calma e medo
O jardim de caminhadas em contentamento
E rasgou-se em tudo que quis, fez e tentou

Pôs fim ao trabalho de despedaçar a sorte,
Julgando ter sua própria sorte
O pior dos destinos
Refletiu-se opacamente
Em memória deste tempo,
Este tempo que não lhe pertencia mais.

Espalhou sobre as camas da lembrança
Todas as noites de prazeres cálidos,
Sentindo os odores do amor antigo.
E simplesmente não tocou nas mágoas
As olhou, viu a janela,
E deixou jogos, ardis, ressentimentos amiúde
Onde jaziam. Na poeira.

Posta do avesso, apanhou do chão
Os vestígios de algo que sonhou
E pôde somente atirá-los a um canto
No absurdo desespero, gracejou com o Fim.

Então,
Recolheu os estilhaços de quem um dia julgara ter sido
e saiu.

Era verão.



Março de 2007.

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