quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Liberdade


Não ficarei tão só no campo da arte,
e, ânimo firme, sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio à própria sorte.

Para que eu possa um dia contemplar-te,
Dominadora, em férvido transporte,
Direi que és bela e pura em tôda parte,
por maior risco em que essa audácia importe.

Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,
que não exista fôrça humana alguma
que esta paixão embriagadora dome.

E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dôr,
morrer sorrindo a murmurar teu nome.


São Paulo, Presídio Especial, 1939

Carlos Marighella

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