quinta-feira, 23 de julho de 2009

Transcrições Noturnas #04


No dia seguinte ao da reunião, a febre deu mais um pequeno salto. Chegou até os jornais, se bem que de uma forma benigna, já que se contentaram em fazer algumas alusões. No outro dia, em todo caso, Rieux podia ler pequenos cartazes brancos que a Prefeitura mandara rapidamente colar nos lugares mais discretos da cidade. Era difícil tirar desses cartazes a prova de que as autoridades encaravam a situação de frente. As medidas não eram draconianas e parecia ter-se sacrificado muito ao desejo de não inquietar a opinião pública. O decreto dizia, na verdade, que tinham aparecido na comuna de Oran alguns casos de uma febre perniciosa que não se podia ainda caracterizar como contagiosa. Esse casos não eram bastante característicos para serem realmente inquietantes e não havia dúvida de que a população saberia manter o sangue-frio. Contudo, e com um espírito de prudência que poderia ser compreendido por todos, o prefeito tomava algumas medidas preventivas. Compreendidas e aplicadas como deviam sê-lo, essas medidas eram de natureza a debelar qualquer ameaça de epidemia. Consequentemente, o prefeito não duvidava por um só instante de que os seus administrados dariam a mais dedicada colaboração ao seu esforço pessoal.

Trecho de A Peste. Albert Camus.

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